Fonte: TERRA
A Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas
(Ebape), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realiza nesta segunda-feira e na
terça o seminário "Favela é Cidade", para avaliar as políticas
públicas implementadas nas unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Rio de
Janeiro do ponto de vista dos moradores das cerca de 20 comunidades que contam
com o projeto. O evento ocorre no Morro Santa Marta, em Botafogo, na zona sul,
e tem a parceria do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
Com o tema "As UPPs, A Proposta de Pacificação e A
População do Rio de Janeiro", o seminário tem debates entre pesquisadores,
estudiosos e população. A primeira mesa do evento abordou os assuntos
cidadania, políticas públicas e mercado. À tarde, a discussão foi sobre a
relação entre sociabilidade juvenil e a polícia. Amanhã, será discutido o
associativismo nas comunidades, terminando com uma roda de conversa entre
lideranças comunitárias.
Para a professora de política pública da FGV, Sônia Fleury,
a política de pacificação, que é para ser um processo de paz e não de guerra,
não poderia ser apenas a UPP. "Isso aqui é ocupação territorial, e é para
ser, para acabar com o tráfico. Mas era preciso o Estado ter fortalecido a área
de saúde, educação e direitos básicos de cidadania. Tem que ter políticas
publicas e não só projetos, projetos e projetos", disse a professora.
Sônia acredita que as políticas públicas estão fragmentando
as comunidades há alguns anos, reduzindo a importância das associações. Ela
disse que essas políticas tratam cada favela separadamente, mas, na verdade, os
problemas são comuns: a especulação imobiliária, a "remoção branca"
(expulsão dos moradores pela elevação do custo de vida), a falta de diálogo com
os jovens, a abordagem policial, entre outros.
"Está sendo feito um crescimento exacerbado do mercado
e muita pouca proteção à cidadania. A pergunta que fazemos é: o mercado subiu a
favela, a cidadania vai ter que descer? Se o Estado não protegê-la a cidadania,
vai", disse a professora. De acordo com o coordenador do Coletivo de
Estudos sobre Violência e Sociabilidade, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (Uerj), Luiz Antonio Machado, as UPPs têm sido responsáveis por uma
redistribuição do poder interno nas favelas, que altera a relação das
comunidades com a cidade.
"Os moradores de favela têm tido pouco espaço na mídia
para vocalizar suas queixas e defesas das UPPs, que poderiam ser um passo
melhor do que são se efetivamente incorporassem as opiniões dos moradores de
uma forma mais orgânica e sistemática. Se há dialogo, ele é do governo com os
empresários e a classe média. Nossa intenção é trazer a voz pública dessas
pessoas", disse Machado.
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