
A mulher e seu bebê são os protagonistas e a equipe que a cerca são os
coadjuvantes.
Esses dias após um
parto, o marido ligou para a família contando que havia nascido e falou que
“tal pessoa” havia feito o parto… eu que estava do lado da puérpera, vi que ela
rapidamente virou a cabeça para a direção da voz dele e gritou: “Eu que fiz o
parto”.Comecei a rir,
porque é lindo de ver/ouvir/presenciar uma mulher que pensa assim. Essa mulher
sabe o que é parir da maneira mais verdadeira e pura, pois ela acredita na
capacidade de respeitar seu corpo para que ele faça o que já vem programado em
seu subconsciente.
Mas então, para que existem
médicos e parteiras? Para darem assistência durante o processo, apenas
garantindo que mãe e bebê estejam saudáveis, esses profissionais devem apenas
assistir a mulher parindo, intervindo apenas em último caso, quando realmente é
necessário.
E para que as
doulas? São elas que cuidam da saúde da mulher que ninguém vê, é aquela saúde
que se sente, que se ouve sem que seja dita uma palavra, são os medos que
aparecem e que devem ser divididos com outra pessoa, para que seja disseminado.
A doula é a voz quando a mulher precisa ouvir que consegue, quando ela precisa
que alguém afirme o que ela já sabe. É a mão que acaricia e que conforta, é o
abraço, é a paciência adquirida com experiência em acompanhar mulheres parindo.
A Doula é assistência física e emocional, que não precisa se dividir entre
funções, ela está ali somente para apoiar a parturiente.
Hoje conversei com
um amigo que faz residência em medicina, sobre como é bizarro a maneira das
pessoas encararem o parto, a mulher que fica horas com contrações, sem dormir,
sem comer direito, é a última a receber o crédito pelo próprio parto. Partos de
emergência, atendidos por leigos, por bombeiros, policiais são eles sempre os
heróis. Mulheres que muitas vezes pariram sozinhas, sem ninguém do lado,
simplesmente porque o parto aconteceu muito rápido, sai no jornal com a frase
“e por sorte tudo ocorreu bem…” Escrevem logo o MILAGRE então que correu tudo
bem.
É preciso que as
gestantes entendam isso, quem faz o parto são elas, são seus corpos, seus
instintos e elas devem exigir isso. Vejo muitas mulheres que frequentam as
minhas palestras ou que enviam e-mail para pedir orientações, e elas acham
estranho quando a orientação é esperar em casa até que as contrações estejam
próximas e reguladas, desde que claro, a bolsa esteja íntegra, bebê se
movimentando, etc. Porque elas acham que estando no hospital, os médicos vão
fazer o trabalho de parto funcionar e a hora de empurrar e tudo mais. E até
mesmo algumas doulandas que me ligam no início do trabalho de parto, elas ficam
apreensivas para que eu vá para suas casas logo, para seguirmos para a
maternidade e só então depois de conversar novamente é que elas conseguem
lembrar que a única coisa a se fazer é esperar.
O parto tem seu
tempo, ele pode ser longo, rápido, fácil, complicado mas ele tem o seu próprio
tempo, e desde que esteja tudo bem, não há necessidade de intervir no processo
natural. E ir para o hospital/maternidade antes do tempo certo, é aumentar a
ansiedade da própria equipe e as intervenções sem necessidade. As mulheres
precisam resgatar essa verdade, elas precisam lutar e mostrar que elas são as
protagonistas no parto, ela e seu bebê. A equipe é formada por coadjuvantes,
mas quem deve decidir onde será o parto, com quem será, a posição e como, deve
ser a mulher.
Aliás, eu quero
dedicar esse texto para as mulheres empoderadas que eu já acompanhei e que
estou acompanhando, mulheres que eu vejo lutarem contra o sistema, contra
família, e qualquer outra pessoa que entre no caminho da realização daquele
grande desejo. Vocês podem tudo, o parto é de vocês. Uma boa hora a todas!
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