Por Rafael Jácome
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Publicarei aos meus leitores um estudo sobre a Justificação nas óticas dos dois principais reformadores Lutero e Calvino. A fonte é uma tese de Heber Carlos de Campos e assim como ele, " Este trabalho é apenas uma tentativa de
ser justo com ambos os ramos do protestantismo. Não é meu propósito argumentar
extensivamente a favor ou contra luteranos e ou reformados. Meu único propósito
é apresentar com precisão as similaridades e diferenças presentes, sem fazer
neste trabalho extensiva justificativa bíblica. Será apenas uma apresentação
histórico-teológica do assunto sem, contudo, ter uma conotação apologética, ..."
A. Similaridades
1 . Sobre a Importância da Doutrina da Justificação
A doutrina da justificação é de tal importância
para a teologia luterana que, em círculos luteranos, ela é chamada articulus
stantis et cadentis ecclesiae (o artigo sobre o qual a igreja permanece ou
cai), sendo o artigo principal das confissões luteranas, a espinha dorsal da teologia na qual todas as outras
doutrinas estão apensas e da qual todas dependem. A doutrina da justificção nos
símbolos de fé luteranos é o carro-chefe de doutrina, sendo o core de
cada artigo. A Apologia afirma literalmente que, na controvérsia sobre a
justificação, "a principal doutrina do cristianismo está envolvida". A Fórmula de Concórdia, citando a Apologia,
diz: "Nas palavras da Apologia, este artigo da justificação pela fé é ‘o
artigo chefe da totalidade da doutrina cristã’".
Para a fé reformada esta doutrina é também muito
significativa. Durante o tempo da Reforma, a mesma importância a esta doutrina
foi dada nos círculos calvinistas. Calvino tratou deste assunto em suas Institutas
da Religião Cristã, escrevendo sobre ela centenas de páginas. Ele insiste
em que a doutrina da justificação é "a principal dobradiça sobre a qual a
religião se dependura, de modo que devotemos uma maior atenção e preocupação
para com ela".
O contexto histórico da Reforma Protestante do séc.
16, na luta contra o catolicismo romano, exigiu uma grande ênfase na doutrina
da justificação pela fé em ambas as tradições, já que o pensamento vigente na
Igreja Católica era a de uma justificação na qual as obras faziam parte.
2. Sobre a Justificação pela "Fé Somente"
Está absolutamente evidente que o sola fide
é muito enfatizado na teologia luterana em sua batalha contra a teologia do
catolicismo medieval. Fé e obras são termos excludentes entre si. Nada poderia
ser acrescentado à justiça de Cristo. Nenhuma adição humana seria tolerada.
A doutrina de Trento ensinava que a justiça
merecida por Cristo deveria ser apoiada pela justiça do próprio pecador que
cooperava com a graça. Literalmente, Trento expressa-se desta forma, no Cânone
9, da Sexta Sessão: Se alguém diz que o pecador é justificado pela fé somente,
significando que nada mais é requerido para cooperar a fim de obter a graça da
justificação, e que não é de forma alguma necessário que ele seja preparado e
disposto pela ação de sua própria vontade, que seja anátema.
No pensamento luterano, nunca as duas coisas, fé e
obras, andaram juntas soteriologicamente. Com os católicos em mente,
Melanchton, o escritor de Apologia, diz que "a partícula somente
ofende algumas pessoas..." Se
eles se desagradam dessa partícula excludente ‘somente’, deixe-os
remover os outros termos também excludentes como ‘livremente’, ‘não de obras’,
‘é um dom’, etc." ---Em seu
comentário sobre a Carta de Paulo aos Gálatas, Lutero diz que somos
"justificados não pela fé proporcionada pelo amor, mas pela fé unicamente
e somente". Segundo ele, a fé não justifica porque produz o fruto do amor
a Cristo, mas porque ela recebe o fruto do amor de Cristo.
Embora Lutero tenha sido o primeiro a enfatizar o
pela "fé somente", esta ênfase não é exclusiva da teologia
luterana. Stanford Reid disse que "Calvino não hesitou em dar grande
ênfase na doutrina da justificação pela fé somente."(10) Reid conclui: "Portanto, se a
justificação pela fé somente é uma doutrina especificamente luterana, devemos
colocar Calvino no círculo luterano antes que no reformado." Calvino não ignora a dificuldade de
defender a expressão "pela fé somente", pois reconhece a força dos
ataques de Roma. Contudo, Calvino,
embora reconheça que a expressão "pela fé somente" não é encontrada
no texto bíblico, e cônscio ainda dos ataques da Igreja de Roma a essa
expressão, dá pleno suporte a essa doutrina nascida nos círculos luteranos.
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