Por Rafael Jácome
Fonte: Heber Carlos de Campos
Fonte: Heber Carlos de Campos
3. Diferença Quanto ao Motivo da Justificação e da Condenação
É crido por ambas as tradições que a base para a
nossa justificação é encontrada na obediência ativa e passiva de Jesus Cristo.
É também crido por ambas que a fé é a causa instrumental da justificação ou o medium
apprehendens, pelo qual recebemos o que nos é oferecido na pregação do
Evangelho.
Mas quando tratamos da causa da condenação,
as diferenças aparecem. A condenação é o oposto da justificação. Se uma pessoa
não é justificada, isto é, se ela não é pessoalmente perdoada, ela certamente
será condenada. A pergunta que se faz, então, é: Qual é a base para a
condenação?
Segundo a tradição luterana, todos os homens, sem
exceção, são objetivamente justificados, e eles não podem ser condenados pelos
pecados pelos quais Jesus Cristo morreu. Então, quando se fala a respeito da
justificação subjetiva, sempre se menciona a fé, mas se uma pessoa não crê na
oferta de salvação, ela é condenada por causa de sua incredulidade, não por
causa daqueles pecados pelos quais Jesus já morreu. Novamente eu faço uma
citação, que reflete a tradição luterana: "Todavia, a sua incredulidade
não invalida o fato que seus pecados são perdoados."(43) As pessoas que têm os seus pecados
perdoados não podem ser condenadas por eles. Portanto, se um pecador é
objetivamente perdoado na cruz, certamente não pode ser levado à condenação por
aquilo que já foi pago. Então, o único pecado que pode trazer condenação, e
pelo qual Jesus não pagou, é a descrença na obra de Jesus, ou seja, a
incredulidade.
Segundo a tradição reformada, o aspecto da
incredulidade é relevante, mas a ênfase na matéria da condenação não está nela,
mas no fato de os pecadores serem culpados por seus pecados, e porque seus
pecados têm que ser pagos. Somente seus pecados os conduzem à condenação, nada
mais. Eles não são condenados simplesmente porque são descrentes, mas porque
merecem condenação em virtude de sua pecaminosidade que não foi expiada. Assim
como a fé não é a base da justificação, a incredulidade não é a base ou a causa
da condenação. Para expressar isto em outras palavras, na fé reformada crê-se
que assim como a fé é o órgão de apropriação para as bênçãos da salvação, a fim
de desfrutá-las nesta presente vida, assim a incredulidade também é o
instrumento através do qual se toma posse das maldições da ira de Deus, mesmo
neste tempo presente, sofrendo a ausência de paz, pela separação de Deus, uma
espécie de antecipação da morte eterna, que será aplicada na manifestação final
da ira de Deus.
A fim de entendermos essas duas diferentes posições
dos herdeiros da Reforma, temos que entender antes alguma coisa da extensão da
expiação de Cristo.
Na tradição luterana, a obra expiatória de Jesus
Cristo foi feita em favor de cada pessoa sem exceção. Objetivamente, através da
obra de Jesus Cristo, todas as pessoas são perdoadas, e apenas os
que crêem são subjetivamente justificados.
Na tradição reformada, diferentemente, a obra de
Jesus Cristo é em favor e no lugar daqueles que são seus, do seu povo, daqueles
que o Pai lhe havia entregue. Portanto, todas essas pessoas que o Pai entregou
ao Filho são objetivamente e subjetivamente justificadas, tendo os seus pecados
perdoados, porque todos aqueles por quem Jesus Cristo morreu, por causa da obra
do Espírito neles, certamente virão à fé.
Então, o motivo da justificação-condenação,
obviamente, segue diferente nas duas tradições: Na teologia luterana não há
nenhum lugar para um duplo pagamento, isto é, o mesmo débito sendo pago duas
vezes (uma vez por Cristo e a outra pelo pecador), porque a teologia luterana
crê numa substituição real. Se há substituição, as pessoas substituídas na cruz
(e cada pessoa sem exceção o é), não têm que pagar pessoalmente os seus
pecados, pois eles já foram pagos. Por esta razão, a motivo da condenação é a
incredulidade.
Na teologia reformada também não há qualquer lugar
para o pagamento duplo da mesma penalidade, porque ela também crê na real
substituição. Se um morreu no lugar de outros, esses outros não mais têm que
pagar o mesmo débito. Eles já estão absolutamente livres desse pagamento! Mas a
diferença entre esta tradição e a outra é que nesta nem todas as pessoas têm os
seus pecados pagos na cruz. O motivo da condenação não é simplesmente a sua
incredulidade, mas seus pecados. Então, eles experimentam pessoalmente a ira de
Deus por causa de sua pecaminosidade não expiada, enquanto que os eleitos (os
do seu povo) desfrutam o amor salvador de Deus porque tiveram seus pecados
pagos na cruz.
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