Por Rafael Jácome
Fonte: Heber Carlos de Campos
Fonte: Heber Carlos de Campos
6. Diferença Sobre a Ordo Salutis
Na teologia luterana a ordo salutis,
geralmente falando, começa com a obra da justificação. "Então, quando a
pessoa é justificada, ela é também renovada e santificada pelo Espírito Santo,
da qual (justificação) a renovação e a santificação, e os frutos das boas obras
provém."(48) Lutero também segue uma ordo
salutis parecida na explicação do artigo terceiro de seus catecismos.
Pieper diz que nessa explicação e "em todas as passagens na qual ele
(Lutero) chama a doutrina da justificação, como a doutrina central, e ao redor
da qual todas as outras doutrinas estão agrupadas, seja como antecedens
ou consequens."(49) A
regeneração, ou a renovação é algo posterior à fé justificante. A Apologia
da Confissão de Augsburgo, preparada por Melanchton diz que "quando
nós cremos, o Espírito Santo desperta os nossos corações através
da palavra de Cristo."(50) Portanto,
o despertamento (que é equivalente à regeneração segundo o entendimento
da teologia reformada) acontece como um resultado da fé, na tradição luterana.
Isto está claro em outros lugares: "Visto que a fé traz o Espírito
Santo e produz a nova vida em nossos corações, ela deve também produzir
os impulsos espirituais no coração ... Após termos sido justificados e
regenerados pela fé, portanto, começamos a temer e amar a Deus..."(51) Em outro lugar ainda diz: "A fé
somente aceita o perdão dos pecados, justifica e regenera."(52) E ainda: "A fé é o verdadeiro
conhecimento de Cristo, ela usa suas bênçãos e ela regenera nossos corações."(53)
Portanto, na teologia luterana, a fé é o que causa
a regeneração. O novo nascimento também é produto da fé justificadora. Os
símbolos luteranos dizem que "nós não podemos guardar a lei a menos que
tenhamos sido nascidos de novo pela fé em Cristo."(54) É verdade que é também dito nas Confissões
que a regeneração é obra do Espírito, mas tem que ser entendido que a
regeneração do Espírito é mediante a fé. É uma ordo salutis diferente da
esposada pela fé reformada.
Na fé reformada a ordo salutis é totalmente
diferente. A primeira coisa a ser considerada nela é a regeneração (que
normalmente nos adultos acontece concomitantemente com a pregação da Palavra),
que é a implantação do princípio de vida, e então, a pessoa nasce de novo,
sendo habilitada a crer em Cristo, a fim de ser justificada subjetivamente. A
fé é o resultado do ato regenerador de Deus, não a causa que leva o Espírito
Santo a operar a regeneração. Por esta razão, na fé reformada, os pequeninos
não são batizados a fim de serem justificados. Eles podem ser objeto da obra
regeneradora do Espírito Santo antes de terem a fé justificadora. Sendo objeto
da obra regeneradora de Deus, quando ouvem a Palavra e a entendem em alguma
medida, crêem no seu Redentor. A teologia reformada segue geralmente uma forma
mais desenvolvida da ordo salutis, incipiente em Romanos 8.30.
Algumas Conclusões
Nas partes em que diferem:
1. As diferenças entre ambas as tradições não são
unicamente as de interpretação de textos relacionados à justificação, mas
estão, sobretudo, nas suas pressuposições teológicas.
2. Ambas as tradições possuem uma estrutura
teológica bastante consistente, se as entendemos à luz de sua própria
hermenêutica e pressuposições.
Nas partes em que concordam:
3. Ambas as tradições, na formulação de sua
doutrina sobre a justificação, lutaram contra o mesmo inimigo, a teologia da
Igreja de Roma. O nascedouro dessa doutrina tem a mesma raíz em ambas as
tradições.
4. Ambas as tradições sempre concordam nos pontos
onde o inimigo comum foi a a teologia da Igreja de Roma com respeito à doutrina
da justificação.
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