O Boato como ferramenta de poder
Rafael Jácome
Muitas vezes nos perguntamos de onde
surgiram certas conversas (falatórios) nos nossos ambientes de
trabalho, vizinhos e demais lugares que frequentamos, sempre atentos ao agir “falando
da vida dos outros”. Pois bem, estes tipos de conversas são símbolos marcantes
nos meios sociais, comumente denominados de boatos.
Há a noção que o boato é inicialmente
uma conversa privada e sobre algo privado, mas, que eventualmente se tornará
pública – o que ocorrerá uma disseminação, que é sua característica. Nos
diversos grupos sociais, independentemente de cultura, raça, nível de
escolaridade, ricos ou pobres e urbanos e rurais, sua perpetuação ocorre na segregação
entres as pessoas. A sua manifestação é comum, seja nos múrmuros e cochichos,
seja em alta voz para ser mais impactante. Por trás de uma fofoca, tem sempre
um bom fofoqueiro – mesmo um iniciante ou o profissional, mas com uma língua voraz
para segredar pessoas. O boato é na sua essência privado/público, o que o
torna em um fenômeno social dicotômico, mas por sua natureza positiva (boato
elogioso) ou negativa (boato depreciativo) lhe torna bidimensional a nível de
conteúdo, consequências e funções.
Na Bíblia, no Novo e Velho Testamento, o boato está ligado a heresias e inverdades, portanto, socialmente reprovados. Mas,
na história das religiões – no período da Inquisição – as denúncias (baseadas
nos boatos) eram utilizadas para condenar os opositores. Fenômeno ainda
encontrado em regimes repressivos nos tempos atuais, onde a denúncia do boato serve
para excluir do grupo àquele de comportamento desviante. Neste caso o boato
funciona como um controle social dentro das diversas esferas grupais: ele
agrupa os membros (coesão) e persegue os que não seguem as normas. O boato,
desta forma, adquire um verdadeiro instrumento de poder.
Diante desta realidade, devemos ter compromisso com a verdade, observando os conteúdos das conversas, suas origens, os cenários, seus atores,... codificando as mensagens, seus objetivos e missões. Não é fácil, mas nos ajuda a compreender melhor os nossos grupos sociais e seus comportamentos de manutenção de poder.
Rafael Jácome
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